
Com a política monetária global marcada pela cautela dos bancos centrais e a crescente incerteza causada por conflitos geopolíticos, investir em ativos considerados estáveis, como o ouro, e direcionar capital para empresas de setores beneficiados pela escalada bélica — como Defesa e Energia — ganha especial relevância.
O Federal Reserve, após manter inalterada a taxa de juros em junho, alertou que a inflação pode ficar em torno de 3% e permanecer elevada além de 2026, adiando qualquer corte até haver dados econômicos mais sólidos. Essa postura restritiva, somada aos rendimentos reais negativos dos títulos do Tesouro, reforça o apelo desses “assets” como proteção contra a perda do poder de compra.
Em 2025, ETFs que replicam o preço do ouro registraram entradas recordes: as reservas globais em ETFs físicos chegaram a 3.445 toneladas no fim de março — alta de 226 toneladas no trimestre, equivalente a US$ 21 bilhões —, marca superada apenas na primavera de 2020.
Segundo a Buenbit, exchange de criptomoedas e corretora, informou o Codigo+, o investimento nesses produtos disparou 170% no primeiro trimestre de 2025, enquanto a demanda por joias caiu devido aos preços altos. Isso demonstra a preferência crescente de investidores institucionais e privados pelo ouro como proteção contra a volatilidade e a pressão inflacionária.
Ações e seletividade
As tensões na Europa, Oriente Médio e Indo-Pacífico impulsionaram o gasto militar global, que atingiu US$ 2,44 trilhões em 2024, alta de 6,8% sobre o ano anterior, segundo o SIPRI. A União Europeia anunciou o plano “Preparação 2030”, com até € 800 bilhões em quatro anos para reforçar capacidades militares. O Banco Europeu de Investimento prepara um pacote de € 3,5 bilhões para projetos de Defesa, triplicando o apoio ao setor e elevando seu teto de empréstimos a € 100 bilhões em 2025.
O cenário favorece empresas do setor. O índice Stoxx Aerospace & Defence subiu mais de 6,3% recentemente, impulsionado pelas expectativas de aumento orçamentário. Rheinmetall, Leonardo e BAE Systems devem ganhar com contratos de blindados, defesa aérea e cibersegurança. Nos EUA, Lockheed Martin, Northrop Grumman e Raytheon concentram grande parte dos contratos do Pentágono e de aliados.
A demanda do setor de Defesa é anticíclica: mesmo em crises, os orçamentos militares tendem a se manter ou crescer. Empresas contam com contratos de longo prazo, receitas previsíveis, margens estáveis e barreiras de entrada elevadas. ETFs como o iShares U.S. Aerospace & Defense (ITA) e o SPDR S&P Aerospace & Defense (XAR) registraram forte captação neste ano.
Diversificação como chave
Gerir bem setores e ativos do portfólio ajuda a evitar perdas bruscas de capital. A Buenbit recomenda ampliar para empresas de diferentes áreas, mas também beneficiadas pelo cenário atual.
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Pacote Ouro: ETFs como GLD, UGL e GDX, que acompanham o preço do ouro e o desempenho de mineradoras.
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Pacote Ouro Negro: companhias energéticas globais e regionais como YPF, ExxonMobil (XOM) e Permian Resources (PRB), que se beneficiam da alta do petróleo e de ajustes na oferta.
A lógica é clara: o ouro protege contra inflação e instabilidade política; o setor de energia reflete diretamente o desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado petrolífero.