
O poker é mais que um simples jogo de cartas. Assim entende o jogador português João ‘Naza114’ Vieira , um dos expoentes de uma nova geração de profissionais. Em um podcast recente, Naza abriu seu coração e sua mente para falar sobre o que significa competir no nível mais alto. Ética, confiança, emoções e sacrifícios foram os temas que nortearam conversa.
«A vida é uma série de sacrifícios. Para ganhar alguma coisa, você sempre vai perder outra,» refletiu ele logo de início, revelando a filosofia que adotou em sua carreira,

O português cravou um evento de US$150K da Triton Poker Series
Polêmica e o espírito do jogo
Naza não se esquivou de temas polêmicos. Ao se referir às figuras controversas do circuito, foi claro: «William Kasuf pode ser bom para a televisão, mas é ruim para o poker. Os recreativos não voltam caso se sintam mal.»
Ele também comparou estilos: «Martin Kabhrel entendeu que havia um limite e ponderou sua forma de jogar. O show pode existir, mas não às custas de deixar as pessoas desconfortáveis.»
Para ele, a diferença é evidente: «Jason Koon compete com intensidade, mas nunca tenta fazer seu oponente se sentir mal. Esse é o caminho que deveríamos seguir.»
Em outro momento, o português questionou o uso extensões de tempo como tática de desgaste: «Faltam regras mais claras. Quando você usa o relógio para desacelerar o jogo, e não porque você está pensando, está indo contra o espírito do poker.»
Confiança e inteligência emocional
Um dos pontos centrais do seu discurso é a confiança. «Muitas pessoas acreditam que os jogadores randomizam suas decisões, mas na realidade eles acabam escolhendo o que já queriam fazer,» explicou.
Para Naza, o poker não se resume apenas à teoria: «Ouvir e observar são tão importantes quanto os solvers. Se você entender os valores e a história de vida do seu oponente, poderá prever melhor como ele vai reagir.»
Ele relembrou a importância do trabalho com Jared Tendler em seus primeiros anos como profissional: «Jared me ensinou a controlar minhas emoções, mas acima de tudo, me ensinou a aprender. Isso mudou a minha carreira.»
Vieira ainda relatou um momento crucial: sua vitória no WSOP $100K contra Phil Ivey : «Abri com A-J e 18 big blinds e ele defendeu com K-4 suited… decidi empurrar no river e ele desistiu muito rápido com uma trinca. Não foi mágica, foi uma runada. Às vezes, até os melhores podem interpretar mal ranges ou situações.»
Sacrifícios e filosofia de vida
Vieira, que jogou basquete profissionalmente antes de se dedicar ao poker, não esconde que sua vida é marcada por decisões difíceis: «Abandonei o basquete, abandonei a universidade e abandonei até muitos relacionamentos pessoais ao longo do caminho. Tudo para me dedicar ao poker,» admitiu.
Hoje, porém, ele busca um equilíbrio diferente: «Vivo com o plano de morrer, com a ideia de que o tempo é limitado. Isso me ajuda a aproveitar mais a vida e julgar menos os outros.»
Se o poker simplesmente desaparecer amanhã, ele já sabe o que faria: «Fundaria uma ONG para trabalhar no desenvolvimento comunitário. Quero retribuir algo para a sociedade.»
Em nível pessoal, ele expôs seu lado cultural: fã de hip-hop, recomendou o álbum Mr. Morale de Kendrick Lamar: «É um disco que fala sobre emoções, família e traumas coletivos. É profundo e me inspira.» Citou, ainda, The Talent Code como um dos livros que mais o influenciaram em seu processo de aprendizado.
Por fim, Naza deixou duas máximas que resumem sua visão de vida: «Vire a cadeira, coloque-se no lugar do outro, principalmente nos conflitos» e «Planeje morrer: viva sabendo que tudo acaba, aprecie o tempo e não fique obcecado com o superficial.»